VILA REAL
A arte da olaria preta tem uma singular expressão no Norte de Portugal, distribuindo-se ao longo do eixo da falha geológica Verin-Penacova. A argila extraída nesta bacia possibilitou o desenvolvimento de olaria de qualidade e distinta de outras regiões, particularmente pela cor negra das suas peças. Entre os diferentes centros oláricos na área de influência do Douro, destacam-se os do concelho de Vila Real, entre as aldeias de Mondrões, Vila Marim, Parada de Cunhos e Lordelo, cuja produção se vendia nos municípios limítrofes até ao rio Tua.
A tradição da olaria neste território remonta à Idade Média, estando documentada no foral da honra de Lordelo, dado pelo rei D. Manuel, em 1519. Este documento impõe o pagamento do foro de quatro reais e meio anuais aos oleiros, o mesmo que pagavam os proprietários de meio casal. Trata-se de uma exceção entre os habitantes do lugar, o que, já naquela época, atestava a importância destes artífices dentro da comunidade.
Esta tradição da olaria persistiu até aos nossos dias apenas na aldeia de Bisalhães, onde ainda se mantêm técnicas e saberes-fazer ancestrais de trabalho e cozedura do barro, distinguidas pela UNESCO desde 2016 como Património Imaterial da Humanidade. Na produção atual destaca-se o uso da roda baixa, único na Europa, os motivos decorativos desenvolvidos pelas mãos femininas e, sobretudo, o processo de cozedura, também ele uma prevalência de técnicas ancestrais e muito rudimentares.
Enquanto património, esta é uma arte criada e recriada pela sua comunidade. Cada artesão, e as suas famílias, fazem parte de um importante processo de preservação cultural, cada vez mais urgente dada a avançada idade de grande parte dos artífices. A manutenção da arte e a sua transmissão é a maior forma de salvaguarda, a par da sua valorização cultural, dentro e fora da comunidade.
Com a adesão do Município de Vila Real à Associação Portuguesa das Cidades e Vilas da Cerâmica (APTCVC), pretende-se dar mais um relevante passo nesse sentido, com a divulgação e dinamização desta arte ancestral, não só ao nível nacional mas principalmente ao nível internacional, aproveitando a presença de Portugal, através da APTCVC, no Agrupamento Europeu das Cidades Cerâmicas. Outra grande vantagem a ter em conta é que pertencer à APTCVC, irá permitir desenvolver e participar em atividades em rede, trabalhando em estreita articulação com as demais cidades nacionais e europeias, dando mais visibilidade à olaria de Bisalhães.
Rui Santos
Presidente da Câmara Municipal de Vila Real
Mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Vila Real
VILA REAL, TERRA DA LOUÇA PRETA DE BISALHÃES
A Olaria Negra de Bisalhães, apesar de ser uma arte ancestral, continua viva na memória dos Vila-realenses, fazendo parte das suas vivências (individuais e coletivas).
Bisalhães, conhecida como a terra da Louça Preta, pertence à freguesia de Mondrões, concelho de Vila Real. Em 2016, o Processo de Fabrico da Louça Preta de Bisalhães foi classificado pela UNESCO na Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente, conquistando-se, assim, um reconhecimento mundial da singularidade desta arte ancestral.
O registo mais antigo de um oleiro, em atividade nesta aldeia, data de 1709. Estamos perante um Processo de Fabrico desta louça que mantém praticamente as técnicas que remontam às suas origens, com poucas, mas necessárias alterações. Único e singular, é um trabalho árduo e um ofício familiar, passando de geração em geração, sendo que, quer o homem, quer a mulher, acompanham o processo do início ao fim, cumprindo, cada um, a sua função.
No complexo processo da cozedura, que dá a característica cor preta à louça de Bisalhães, toda a família se reúne e trabalha com alegria, durante cerca de 6h, para que nada falhe na consecução da identidade única desta louça. Tudo culmina com a venda da louça, sendo as peças mais tradicionais a Bilha de Rosca, a Bilha do Segredo, os Pucarinhos, o Alguidar, a Assadeira e a Pichorra.
Manter viva esta arte ancestral implicará recuperar o passado, naturalmente, mas, também, conquistar o futuro, tornando mais apelativo este artesanato. Por este motivo, afigura-se como fundamental promover uma saudável articulação entre os artesãos, os novos designers e os consumidores, pois, só assim, se poderá vislumbrar um possível caminho para a salvaguarda desta arte, que, diga-se, já não pertence só às gentes de Bisalhães, mas ao mundo, a toda a Humanidade!
Fazer parte da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas constituirá, seguramente, uma forma de potenciar a nossa olaria, nomeadamente através do trabalho em rede, quer nacional, quer transnacional, o que conferirá uma maior visibilidade e afirmação a esta arte, que constitui o nosso maior desígnio.
Rui Santos
Presidente da Câmara Municipal de Vila Real