Abril 12, 2023 Autor

O “Triunfo de David”, painel de azulejos holandês adquirido pelo Ministério da Cultura

MUSEU NACIONAL DO AZULEJO MECENATO PRIVADO E AQUISIÇÕES PÚBLICAS

O “Triunfo de David”, painel de azulejos holandês adquirido pelo Ministério da Cultura

 

O painel de azulejos holandês o “Triunfo de David”, obra datável de c. 1680-1690, provável manufatura de Cornelis Van der Kloet, pai do autor dos azulejos da Igreja da Madre de Deus, foi adquirido, em final de 2022, pelo Ministério da Cultura, numa ação que antecipou a constituição da Comissão de Aquisições de Obras de Arte, passando a integrar a coleção do Museu Nacional do Azulejo e, no futuro, a sua exposição permanente.

Trata-se de uma obra imponente, com quase nove metros de comprimento por 1,70 metros de altura, constituída por três cenas: a “Morte de Golias por David”, a cena central com o “Triunfo de David” propriamente dito e “David eliminando o leão e o urso”. A sua dimensão é digna de registo, pois esta é uma das características que torna única a azulejaria holandesa presente em Portugal. Com uma exceção conhecida em Espanha, só para o nosso país foram produzidas peças desta grandeza pelas manufaturas holandesas.

Para além da sua relevância artística, este painel tem o interesse acrescido de ter incluído, em finais do século XVII, uma encomenda feita à Holanda para um espaço português, muito provavelmente de cariz religioso. De pintura a azul sobre branco, trata-se de uma das obras da azulejaria holandesa, encomendadas nesta época, que terão influenciado, de forma decisiva, o curso da azulejaria nacional. Efetivamente, em resposta ao interesse da clientela portuguesa pela sofisticada produção holandesa que, ao utilizar a pintura a azul sobre branco, ecoava o prestígio da porcelana da China, as oficinas portuguesas fizeram a mesma opção estética dando, desta forma, início ao chamado “Ciclo dos Mestres” (1690-1725) e à monocromia predominante até meados do século XVIII.

De destacar também que esta obra esteve presente na 6ª Exposição Temporária de Azulejos, realizada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Março de 1947, a qual constituiu a génese do projeto, da autoria do Engenheiro João Miguel dos Santos Simões, que viria a dar origem ao que é hoje o Museu Nacional do Azulejo.

Este “Triunfo de David” faria parte de um conjunto adquirido por um antiquário de Lisboa numa quinta próximo de Sacavém, a chamada Quinta Nova do Castelar, destruída aquando da construção do Aeroporto da Portela, e que para aqui fora transferido de um espaço de colocação original que se desconhece.

Esteve durante alguns anos depositado no Museu Nacional de Arte Antiga, tendo sido adquirido pelo avô do último proprietário privado, provavelmente no final da década de 1960.

Em 2022, este colecionador contatou o Museu Nacional do Azulejo informando que pretendia vender esta obra, capaz de suscitar o maior interesse de museus e colecionadores privados internacionais, mas que considerava da maior importância a continuidade da sua permanência em Portugal.

Concretizado este desígnio no final do ano passado graças à aquisição do Ministério da Cultura, o “Triunfo de David” pode agora ser usufruído pelo público do Museu Nacional do Azulejo e afirmar-se entre as obras mais destacadas da sua coleção.

Com a inauguração simultânea da Sala dos Arcos e a apresentação pública do “Triunfo de David” conjuga-se neste espaço e momento o que de melhor pode ocorrer no âmbito do financiamento e mecenato patrimonial: a criteriosa aquisição de peças que enriquecem decisivamente as coleções nacionais, fruto de um inteligente investimento cirúrgico por parte do Estado; e o generoso apoio e incentivo que entidades privadas fomentam na consolidação de uma oferta cultural mais rica, diversificada e plural.

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