LOURES
O Concelho de Loures, pertencendo ao distrito de Lisboa, integra-se na parte meridional da província da Estremadura a qual contacta e intercambia influências com a Beira Litoral, o Ribatejo e o Alto Alentejo. As suas fronteiras são definidas pelos concelhos de Arruda dos Vinhos e Mafra, a norte, Mafra, Sintra e Odivelas, a poente, Lisboa e Odivelas, a sul e com o rio Tejo e o concelho de Vila Franca de Xira, a nascente. O Concelho de Loures existe administrativamente desde julho de 1886, após a extinção do Concelho dos Olivais.
O século XIX assistiu ao nascimento de muitas unidades de produção cerâmica, produto da conjuntura nascida da Revolução Industrial que, com os seus avanços e hesitações próprios, se fez sentir no nosso País, começando a delinear algumas importantes modificações no tecido industrial. A Fábrica de Loiça de Sacavém afirmou-se como uma das produtoras de faiança (pasta cerâmica composta por feldspato e caulino) mais reconhecida em Portugal. Uma das principais unidades fabris da cintura industrial da zona orientar de Lisboa pela proximidade do rio e da linha férrea.
A respeito da Exposição de Cerâmica do Porto, em 1882, em cuja organização participou, Joaquim de Vasconcelos diz o seguinte: «a fábrica de Sacavém […] apresentou-se com um conjunto de velharias tão deplorável que provocou sérios reparos; mas aprendeu com a crítica e em pouco tempo colocou-se à frente de todas com a sua faiança fina, imitação da meia-porcelana».
Num contexto idêntico, Charles Lepierre escreve, em 1899: «Há pouco tempo a grande fábrica de Sacavém inaugurou o fabrico das faianças feldspáticas». «Durante um grande número de anos Sacavém produziu apenas imitações […] dos desenhos ingleses do princípio de século; a monomania chinesa cegava a direcção artística deste estabelecimento […] mas só nestes últimos três anos se começou a acentuar uma tendência absolutamente manifesta para o bom gosto.»
A Fábrica de Loiça de Sacavém (c.1858-1994) fundada por Manuel Joaquim Afonso (1804-1871), um industrial que solicita e consegue “alvará de patente como introdutor do fabrico de cal hydraúlica, cimento e pozzolanas artificiaes”, em 14 de maio de 1856, por um período de cinco anos. Em 1861, Manuel Joaquim Afonso vende a fábrica à família Stott Howorth e a fábrica cresce e diversifica os formatos e motivos decorativos da loiça doméstica, decorativa e de higiene, ao mesmo tempo que constroem novos fornos, instalam novas máquinas e o espaço da fábrica é organizado em espaços diferenciados para cada sector de produção. James Gilman (1854-1921), da segunda família inglesa entra na gestão da fábrica, já em 1877 assina pela administração, e após a morte de John Stott Howorth (1829-1893), constitui com a Baronesa Howorth de Sacavém a firma Baronesa Howorth de Sacavém & C.ª. Nesta época, James Gilman introduziu o fabrico de loiça sanitária e azulejos. Entre os muitos artistas da fábrica, destaca-se Jorge Colaço (1868-1942) com os painéis artísticos (1904-1922) tão conhecidos e ainda in situ. De registar um grande avanço tecnológico para a fábrica, com o primeiro forno túnel para loiça doméstica, em 1912. Após a morte de James Gilman, Raul Gilman (filho) gere a fábrica acompanhado por Herbert Edward Over Gilbert, que estava na FLS desde 1907, a terceira família inglesa a estar à frente da administração da fábrica, a partir de 1922 e até ao seu encerramento em 1994. Neste período Gilbert, a produção e a fábrica aumentam, destacamos os formatos e decorações da loiça com influência estética Art Deco, o início da produção de mosaicos cerâmicos e o desenvolvimento da estatuária (1930 -1960), bem como a renovação da produção de azulejos e loiça sanitária (1960-1980).
As loiças de Sacavém acabariam por entrar em todos os lares, nas instituições públicas e privadas e unidades hoteleiras, portugueses, bem como, no continente africano e no Brasil. Hoje ainda se encontram ao olhar de todos nas muitas estações de caminhos de ferro e fachadas de edifícios revestidas com azulejos artísticos e de padrão da Fábrica de Loiça de Sacavém. De igual modo, os Cemitérios de Loures têm muitas das suas campas decoradas com placas cerâmica, onde a fotografia é pintada em cerâmica, vasos decorativos e revestimento das campas com azulejos artísticos e de padrão.
Com a falência da fábrica, a Câmara Municipal de Loures, em 1995, entendeu salvaguardar e valorizar a memória da Fábrica de Loiça de Sacavém e edificou o Museu de Cerâmica de Sacavém, inaugurado a 7 de julho de 2000. Este é um espaço de valorização, salvaguarda e divulgação do legado das Fábricas de Loures em ligação ao processo de industrialização do concelho.
O Museu de Cerâmica de Sacavém encontra-se instalado num edifício construído de raiz, que incorpora o Forno 18, último vestígio físico da Fábrica de Loiça de Sacavém. Trata-se de um magnífico exemplar da arquitetura de fornos, os fornos-garrafa que marcaram a paisagem da revolução industrial inglesa e, também em Portugal nos antigos terrenos da Fábrica de Loiça de Sacavém. Desde a sua inauguração, dedica-se ao estudo da história e da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém e do património industrial do concelho de Loures.
Tem como missão colecionar, conservar, preservar, documentar, investigar, e promover os espólios que lhe estão confiados, no sentido de valorizar a sua divulgação e apresentação pública, contribuindo para o conhecimento e o enriquecimento do património do Trabalho e da Arte da Fábrica de Loiça de Sacavém, assim como do Património Industrial do Território. Na sua vocação, constituir-se como um espaço de referência para o estudo, discussão e problematização das questões associadas ao património da Fábrica de Loiça de Sacavém e ao Património Industrial do Concelho.
Trata-se de um museu municipal, sob a tutela da Câmara Municipal de Loures. Integra a Rede de Museus Municipais de Loures (que inclui, igualmente, o Museu Municipal de Loures, a Casa Museu José Pedro, o Museu do Vinho e da Vinha de Bucelas e o Centro de Interpretação das Linhas de Torres). O Museu de Cerâmica de Sacavém é aderente da Rede Portuguesa de Museus.
Em 2006, a Câmara Municipal de Loures instituiu o Prémio Bienal de Cerâmica Manuel Joaquim Afonso que distinguia trabalhos na área de produção cerâmica. Contou com três edições.
No presente ano de 2022, completam-se 20 anos sobre a atribuição ao Museu de Cerâmica de Sacavém do Prémio Luigi Micheletti – melhor museu europeu do ano, na categoria de Património Industrial pelo EMYA – European Museum Year Award. Contam-se outros prémios como são os Prémios APOM – Associação Portuguesa de Museologia: em 2013 – Prémio na categoria INCORPORAÇÃO; em 2019 – Prémio na categoria INCORPORAÇÃO, Prémio na categoria EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA e Prémio na categoria PARCERIA. E, ainda, os Prémios SOS AZULEJO: em 2012 – Menção honrosa – CATÁLOGO; em 2018 – Menção honrosa – HISTÓRIA DE ARTE.
A coleção do museu é constituída por cerca de 10 000 peças referentes à produção da antiga Fábrica de Loiça de Sacavém – loiça, moldes em gesso e em madeira, mostruários de cores e de produtos, materiais de laboratório, pigmentos originais, coleções documentais e arquivos empresariais da Fábrica e dos seus artistas.
Em 2005, a Câmara Municipal de Loures inaugurou a Casa Museu José Pedro na antiga residência de José da Silva Pedro (1907-1981) e do seu «Museu Particular de Arte e Floricultura».
A Casa Museu é hoje um espaço de visita às exposições temáticas, destinado a preservar a memória do artista, modelador na Fábrica de Loiça de Sacavém (1934-1974), cuja obra é constituída sobretudo por quotidianos da sociedade, temas religiosos, da vida rural e reproduções arquitetónicas. No exterior, no jardim da casa, pequenas construções remetem-nos para um mundo imaginário. Trata-se de um equipamento municipal, sob a tutela da Câmara Municipal de Loures, integrando a Rede de Museus Municipais de Loures.
Ricardo Leão
Presidente da Câmara Municipal de Loures
MENSAGEM DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE Loures
A adesão do Município de Loures à APTCVC é uma oportunidade de trabalho numa rede nacional e europeia, com valor cultural, turístico e económico para o território de Loures.
A cooperação e intercâmbio através do desenvolvimento de projetos de maior folego potencia o ressurgimento e inovação da produção cerâmica, local, nacional, europeia e internacional.
Loures tem um vasto conjunto de edificado religioso, palaciano e civil com património azulejar relevante. Teve a maior fábrica de faiança em Portugal com produção de loiça doméstica, decorativa, sanitária, azulejos de padrão e artísticos, mosaicos cerâmicos, que se encontram em uso pelas famílias, nas fachadas de edifícios por todo o país, painéis artísticos que decoram interiores e exteriores de estações de caminhos de ferro, edifícios públicos e privados. Desde 2000 toda esta memória industrial vive também no Museu de Cerâmica de Sacavém.
Com repercussões no turismo português apontamos a nível nacional, a necessidade de maior proteção e valorização do património azulejar e o património cerâmico no seu todo, que tanto impressiona e agrada aos estrangeiros e, sobretudo, constituem um valor identitário de Portugal.
Ricardo Leão
Presidente da Câmara Municipal de Loures