FUNDÃO

Fundão – Telhado

HISTÓRIA DE UMA ARTE, O BARRO

Entre a Gardunha e a Serra da Estrela, com panorâmica e desassombrada vista para o abraço de serras que desenha no seu centro a Cova da Beira, a freguesia do Telhado bebe também da orografia do Zêzere. A sua ocupação é remota, inúmeros vestígios arqueológicos o comprovam e há notícia escrita do seu povoamento no reinado de D. Dinis, em carta escrita pelo Soberano sobre a terra que então era conhecida como “Carantonha”. Para a toponímia de Telhado teria contribuído a atividade que mais marcou a identidade desta aldeia – a Olaria. Com efeito, a aldeia teria inúmeros fornos telheiros dedicados a cozer o barro. A olaria foi durante séculos a atração principal da aldeia, dando trabalho e sustento a gerações de oleiros e espalhando pelo país a fama da olaria do Telhado. De origens temporais e fundacionais nebulosas, terá sido a partir do século XVIII que se enraizou na paisagem esta comunidade, assumindo a sua identificação num topónimo indicativo de uma especialização no conjunto das comunidades rurais da Cova da Beira. A produção da louça era uma atividade familiar numa repartição de tarefas. O oleiro vivia o seu quotidiano na roda e enfornava a louça. A mulher e os filhos preparavam e limpavam o barro, abasteciam de água e recolhiam a lenha e os arbustos necessários à cozedura, à partida para a venda. As segundas-feiras de descanso, a devoção a Nossa Senhora da Rosa, a Romaria de Santa Luzia, as palavras e os sons das matérias e dos gestos, as cores, os cheiros e a temperatura das olarias e dos fornos entrançaram um mapa cíclico de sentidos e de sentires da identidade do Telhado, enquanto terra de Barro.

CASAS E LUGARES DO SENTIR

Casa do Barro

Em 2017, a Câmara Municipal do Fundão e a UNESCO celebraram um protocolo que deu origem ao Centro UNESCO – Rede de Casas e Lugares do Sentir – Casas do Território, uma rede de casas em distintas freguesias do Município do Fundão que honram os saberes e tradições locais e formam um roteiro turístico e educativo concelhio. Partimos então do território como uma grande Casa Comum, a Casa é o território, o espaço vivido e construído numa ecologia vivencial que cumpre as origens etimológicas de Ecologia oîkos, a “casa”, logos, a linguagem, o conhecimento.

É precisamente para memorializar essa arte local que foi criada a Casa do Barro, instalada num antigo palacete da aldeia. Aqui pode ficar a conhecer todo o processo de olaria, da extração da matéria-prima – a argila, até à queima e resfriamento, passando pelas morosas fases intermédias, com destaque para a moldagem, em que as mãos do oleiro transformam a terra e a argila em formas – vasos, cântaros, malgas e também esculturas. O visitante pode ainda ver fotografias antigas que retratam a época em que o Telhado era a capital do barro e vislumbrar os rostos antigos e as mãos que o trabalharam ao longo de décadas. As histórias, memórias materiais e fotográficas desta comunidade oleira e dos seus saberes e espaços de produção. Há também um interessante espólio de obras de cerâmica e loiças tradicionais cedidas por habitantes da aldeia, que desde cedo abraçaram e acarinharam este projeto. Durante a visita, podemos ver ainda o trabalho do oleiro ao vivo, e sob reserva, “meter as mãos na massa”, ou melhor, no barro, já que Casa do Barro promove regularmente ateliês de olaria. Além disso, a Casa do Barro desenvolve algumas iniciativas culturais, como debates, certames, participação e representação em eventos concelhios e nacionais.

Presidente Paulo Fernandes

Paulo Fernandes

Presidente da Câmara Municipal do Fundão

Mensagem do Presidente da Câmara Municipal do Fundão

Num mundo em constante mudança, em que os desafios à promoção e conserva-ção dos saberes surgem diariamente, a resiliência e a capacidade de inovar na tradição é um dos maiores trunfos dos Municípios. Assim, o Município do Fundão, atento às necessidades da sociedade envolvente e assumindo a sua singularidade e especificidades, toma para si o papel de principal responsável pela dinamização, conservação e preservação do território e respetivo património material e imaterial.

Assim nasceram as “Casas e Lugares do Sentir” – uma estrutura imaterial que alberga os espaços físicos já existentes e onde todos os saberes e conhecimentos têm um espaço demarcado e singular e, ao mesmo tempo, dinâmico e interativo e ao serviço de todos, pois só assim se compreende o verdadeiro sentido de cidadania e o sentimento de pertença a uma comunidade, uma vez que as Casas têm o selo da UNESCO.

A Casa do Barro, que integra o projeto “Casas e Lugares e Sentir” é um bom exemplo da preservação de um Saber Fazer com história que nasceu na freguesia do Telhado, entre a Serra da Gardunha e a Serra da Estrela, com a panorâmica e desassombrada vista para o abraço que desenha no seu centro a Cova da Beira. É possível conhecer todo o ciclo ligado ao barro, que vai desde a extração do barro nos antigos Barreiros até à roda. Os tempos acompanham a mudança das peças de uso simples e utilitário de antigamente produzidas na Aldeia.

Atualmente a Casa do Barro assume uma outra linguagem mais contemporânea, com a criação do Olaria Lab, com impressão 3D. É um laboratório de experiências, afetos e de memórias. Pela freguesia do Telhado passam artistas e viajantes da olaria que procuram criar e partilhar novas ideias. A “Escolinha do Barro” é outro projeto educativo, do qual nos orgulhamos muito. É destinada às crianças e é considerada uma boa prática pedagógica, funcionando como uma AEC, com a missão clara de evidenciar que o barro e a olaria são uma arte enraizada na comunidade. O Fundão, as Casas e Lugares do Sentir são uma marca do nosso território e do Concelho.

Paulo Fernandes
Presidente da Câmara Municipal do Fundão

Representantes da APTCVC

Vereadora Alcina Cerdeira_Fundao

Vereadora Alcina Cerdeira, CM do Fundão