ESTREMOZ
Dada a riqueza do subsolo, Estremoz desenvolveu de sobremaneira a olaria. Disto são exemplo os púcaros de Estremoz, tão afamados na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Entretanto no século XVII, em data incerta, surge o figurado de Estremoz. Em 1718 e 1726 já há bibliografia que explicitamente refere a produção desta arte, sendo que em 1770 há mesmo uma Ata de Vereação que menciona a existência de umas boniqueiras que modelam Figuras e brincos de barro. Porém, o registo mais antigo é um vestígio arqueológico do século XVII.
Tudo indica que maioritariamente as oficinas de figurado seriam constituídas por mulheres, as quais contudo não tinham a sua atividade profissional constituída e reconhecida como ofício de pleno direito (enquanto corporação), tal era a condição feminina na época.
Na segunda metade do séc. XVIII, após a reforma da arte presepista proporcionada pela Escola de Mafra, em Estremoz assiste-se ao incremento de temáticas no figurado, dadas as necessidades várias em termos de composição de cenas profanas ao redor do Nascimento de Cristo.
Entretanto, em virtude da legislação pombalina favorável às loiças lusas, é fundada a Fábrica de Loiça Fina de Estremoz. A fábrica teve grande implantação na região e laborou grosso modo de 1774 a 1811, sendo vítima da Guerra Peninsular.
No século XIX as cerâmicas em Estremoz vão progressivamente perdendo o ímpeto. Além do encerramento da Fábrica de Loiça Fina em 1811, em 1837 temos a laborar 26 oficinas de figurado (dadas como decadentes), 24 de olaria de barro fino (dados como progressivas) e 6 olaria barro grosso (estagnadas).
No final do século poucos ceramistas subsistiam. Apenas duas famílias produziam bonecos e na olaria restavam três oficinas.
Surge porém no séc. XIX uma família que viria a marcar a olaria e mais tarde a arte bonequeira. A família Alfacinha emerge nesta terra por intermédio de Caetano Augusto da Conceição, um lisboeta que fora casapiano em Évora. Caetano afastou-se da olaria tradicional, dando-lhe características que mais tarde viriam a chamar-se de Estremoz, e que tinham em termos formais muita influência do naturalismo das Caldas da Rainha.
Entretanto no primeiro quartel do séc. XX, a tradição barrística estava moribunda. Após o falecimento de Gertrudes Rosa Marques, houve mesmo um breve período em que já não se produziam bonecos (1921-1934).
Graças à Escola de Artes e Ofícios, logo em 1935, o figurado é resgatado da breve extinção. Através do seu diretor, José Maria Sá Lemos, dão-se os primeiro passos para a sua recuperação, ao associar à escola a velha barrista Ti Ana das Peles. Entretanto obtém também o precioso auxílio do oleiro Mestre Mariano da Conceição.
Surgem um conjunto de novas oficinas, associadas à ação de Mestre Mariano, que ensinou alguns colaboradores da Olaria Alfacinha e estes por sua vez encetaram o processo de transmissão a outros.
No início do séc. XXI, assiste-se paulatinamente a uma redução do número de barristas. O Museu Municipal de Estremoz, avançou então com um processo de valorização e salvaguarda. Foi assim que surgiu a candidatura à inserção da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de PCI da Humanidade. A 7 de Dezembro de 2017, a candidatura foi aceite.
Em 2018 o Museu conclui o procedimento de certificação do boneco. Atualmente é a única produção artesanal certificada a sul do Tejo.
Regressando à Olaria de Estremoz, esta está extinta desde 2016. O município nunca perdeu a vontade de recuperar a arte, pelo que em Novembro de 2021, em estreita parceria com o Cearte, promove um curso de olaria, cujo formador é o afamado Xico Tarefa.
José Daniel Pena Sádio
Presidente da Câmara Municipal de Estremoz
Mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Estremoz
A história de Estremoz confunde-se com a vitalidade da sua produção cerâmica. Infelizmente estamos hoje reduzidos a uma manifestação desta arte tão singular, designadamente o Figurado, vulgo Bonecos de Estremoz, o qual foi reconhecido como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO em 2017. Este é, aliás, o único Figurado do mundo reconhecido pela UNESCO como Património da Humanidade, o que atesta a qualidade deste saber-fazer estremocense.
Entretanto encetámos um processo de recuperação e revitalização da olaria, a qual atualmente se encontra extinta. Pela formação e apoio continuado por parte desta autarquia aos potenciais oleiros, cremos que vamos a médio prazo encontrar uma solução que viabilize a continuidade desta produção tão estremocense.
Como grandes polos de divulgação das artes cerâmicas em Estremoz, temos, para além dos nossos museus, a Feira de Artesanato, atualmente integrada na Feira Internacional Agro-Pecuária de Estremoz (FIAPE). Convidamos todos os associados a juntarem-se a nós nesta feira, a qual pretende ser um espaço de promoção e dinamização do artesanato nacional.
Por fim, o Município de Estremoz entende a Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica, como um espaço colaborativo e de partilhas, pelo que estamos abertos a trabalhos que ajudem a fomentar sinergias para o estudo, divulgação e dinamização das nossas cerâmicas.
José Daniel Pena Sádio
Presidente da Câmara Municipal de Estremoz