COVILHÃ

A Covilhã é conhecida pela sua longa e secular história ligada aos lanifícios, não se verificando particular vocação para as artes da cerâmica. As alusões que se conhecem relativamente à cerâmica e ao barro estão implícitas em referências várias ao longo da sua história, pressupondo a existência de manifestações ligadas àquela atividade.

Na transcrição do Tombo da Comarca da Beira – documento produzido aquando da verificação e estado das propriedades no reinado de D. João I (1395) – Braamcamp Freire (1914) refere um chão designado por “olaria velha” e um “caminho da olaria” nas imediações da Igreja de Santo André, de localização ainda indeterminada.

É expectável que, ao longo dos séculos, a atividade de oleiro perdurasse e desse lugar ao surgimento de outras e novas olarias. Todavia, não foi possível apurar fontes que comprovem essa ocorrência. Facto é que, à primeira vista, a cidade e algumas das freguesias do concelho apresentam evidencias da utilização de elementos de cerâmica nas suas construções, sendo mais evidentes as inerentes a construções fabris (séc. XVIII-XX), seja no núcleo urbano mais antigo ou nas imediações das ribeiras da Carpinteira e da Goldra, onde ainda se conservam algumas das colossais chaminés de alvenaria de tijolo rasgando a paisagem.

O crescente poder económico da burguesia ligada à indústria têxtil possibilitou deslocações regulares à Europa durante os séc. XIX e XX. Estas viagens foram, de alguma forma, responsáveis pela profusão mais tardia, em Portugal – e, especificamente, na Covilhã – de elementos que manifestavam influências claras de um dos mais expressivos movimentos artísticos europeus de então – a Arte Nova/Art Nouveau.

Entre o final do séc. XIX e o início do séc. XX a Covilhã assistiu a um florescimento de apontamentos artísticos de inspiração Arte Nova, nos quais a utilização da cerâmica – em particular do azulejo decorativo – adquire preponderância no edificado da cidade e demais freguesias do concelho, nomeadamente no Tortosendo. Encontramo-los, por exemplo, no Palacete Jardim, no Colégio Moderno, no Club União, na atual agência do Banco Comercial Português, na antiga Empresa Transformadora de Lãs, atual Polo da Engenharias da UBI, no edifício do Colégio das Freiras, e no palacete à entrada do Tortosendo, entre outros.

Apesar de possuírem elementos exteriores que revelam uma preocupação mais prática do que artística no que concerne à aplicação da cerâmica (concretamente do azulejo), é notória uma especial preocupação com o higienismo nas fachadas e interiores dos edifícios, que privilegia materiais e recursos arquitetónicos de maior salubridade e durabilidade. Assim, a par do azulejo decorativo, é possível verificar a existência de construções com revestimento a mosaico cerâmico e ladrilho nacional ou importado, sem referência à sua produção local, nomeadamente na Covilhã.

O expoente máximo covilhanense na aplicação de azulejo decorativo de inspiração Arte Nova, no interior e exterior dos edifícios, é o Palacete Jardim, localizado no Jardim Público (Av. Frei Heitor Pinto). Com projeto de Ernesto Korrodi (1915), o imóvel foi residência da família de Joseph Bouhon. Os elementos cerâmicos que revestem o exterior são provenientes da Bélgica e representam elementos naturalistas e figuras femininas, paisagens bucólicas e campestres, ornamentos com frutos, flores e aves, entre vários motivos florais.

Localizado na Rua Visconde da Coriscada, o edifício que hoje alberga a agência do Banco Comercial Português possui fachada rematada por um friso de azulejos com motivos vegetalistas, e o corpo central apresenta friso decorado por grinaldas e festões, e onde é notória a influência do movimento Arte Nova.

Na calçada de S. Silvestre encontramos um edifício residencial, com planta da autoria de Januário Martins d’Almeida, que apresenta a sua fachada revestida a azulejo de padrão geométrico azul e branco.

Na rua Cristóvão de Castro encontramos um edifício residencial com elementos Arte Nova, em cuja fachada estão patentes azulejos com imagens referentes à cidade e à Serra da Estrela, pintados a azul e emolduradas por motivos fitomórficos e geométricos policromados.

O edifício conhecido por Colégio das Freiras, encomendado pelo Comendador José Maria Campos Melo, apresenta características Arte e Nova e, dos apontamentos de cerâmica nele patentes, destaca-se a platibanda de elementos volutuosos em cerâmica.

Já na Rua Beato Francisco Álvares encontramos um edifício residencial que atualmente alberga o Açafrão Restaurante cuja frontaria apresenta frisos de azulejos de inspiração Arte Nova com motivos florais constituídos por florões e grinaldas e papoilas de caules entrelaçados. Outro edifício que apresenta friso de remate de azulejos policromos de motivos florais encontra-se localizado na Rua dos Namorados onde esteve instalado o Colégio Moderno.

O Club União, outrora residência de Júlio Henriques da Cruz, apresenta revestimento a azulejo retangular monocromático castanho, tal como o edifício da rua Conselheiro Santos Viegas, (encomendados pelo Padre Alfredo dos Santos Marques) e um edifício localizado na Rua Marquês de Pombal, com planta da autoria de Januário Martins d’Almeida, que apresenta fachada de azulejos brancos e verdes.

Na Calçada da Fonte do Lameiro, onde funciona atualmente o Polo das Engenharias da UBI esteve, até ao seu encerramento, instalada a Empresa Transformadora de Lãs. O edifício, com projeto de Ernesto Korrodi, possui parte da sua fachada ornamentada por azulejos policromos, formando volutas, encanastrados com motivos florais e vegetalistas formados por flores e acantos que ladeiam uma figura feminina a fiar e no topo a designação daquela unidade fabril. Os mesmos motivos inerentes à indústria de lanifícios em azulejo policromo encontram-se patentes no interior do edifício.

Referencias feitas às chaminés de alvenaria em tijolo cerâmico e aos azulejos patentes em edifícios de características Arte Nova, resta também mencionar que a Covilhã possui, de igual forma, um vasto património religioso que apresenta aplicações de cerâmica decorativa ao nível do interior e exterior, como é exemplo a Capela de S. Silvestre que apresenta, na sua parede testeira interior, um painel de azulejos hispano-mouriscos. De entre todo o património religioso, o imóvel que mais se destaca no que respeita à aplicação de cerâmica é, sem dúvida, a Igreja de Santa Maria Maior, quer pela sua monumentalidade, quer pela sua fachada revestida a azulejos com motivos alusivos ao culto mariano, fabricados em 1943 pela Fábrica Aleluia.

A Covilhã apresenta, em algumas artérias da cidade, placas toponímicas em azulejo policromado fabricadas na Fábrica de Cerâmica Constança, com desenho de Leopoldo Battistini, um pintor e ceramista de origem italiana que se radicou em Portugal, onde foi professor do ensino técnico em Lisboa e em Coimbra. Estas placas toponímicas, ainda colocadas nos respetivos locais, referem-se a datas, figuras e instituições que desempenharam importantes papeis na vida política, religiosa, científica, social e cultural da cidade, a saber: Cristóvão de Castro, Conselheiro Doutor António Pedroso dos Santos, Ruy Faleiro, Bombeiros Voluntários, Pero da Covilhã, Comendador Mendes Veiga, Heitor Pinto, S. Francisco Alvares, 1º de Dezembro, Dr. António Plácido da Costa, Comandante dos Bombeiros Sebastião S. Júlio, Condestável Nun’Alvares Pereira. Existem, ainda, outras que foram apeadas e que integram o espólio do Município da Covilhã, nomeadamente as referentes a António Augusto Aguiar, Visconde da Coriscada e a do Marquês d’Ávila e Bolama.

A Covilhã é berço de um dos primeiros artistas a exercer funções de ceramista, modelador e desenhador na Fábrica de Porcelana da Vista Alegre. Referimo-nos ao escultor, pintor, gravador ourives e medalhista Manuel Morais da Silva Ramos, mais conhecido por Morais do Convento.

Morais do Convento nasceu na Covilhã a 1 de janeiro de 1806. Aos 15 anos é admitido na Real Casa Pia de Lisboa onde frequenta a Aula Pública de Desenho, instituição na qual veio a ser assistente. Conhecedor das aptidões e elevado sentido estético, o fundador da Fábrica de Porcelana Vista Alegre e administrador da Casa Pia, José Ferreira Pinto Basto, convida Manuela Morais da Silva Ramos para exercer ali funções de modelador, escultor e pintor. Alguns dos seus trabalhos podem ser, ainda hoje, apreciadas no Museu Vista Alegre, em Ílhavo.

Este artista covilhanense é referenciado em obras como A História da Gravura Artística de Portugal, no Livro do Centenário da Vista Alegre e Porcelana Artística Portuguesa.

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Vítor Manuel Pinheiro Pinheira

Presidente da Câmara Municipal da Covilhã

MENSAGEM DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA

A integração da Covilhã na Associação de Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (APTCVC) é um importante passo na valorização das artes e tradições a ela associadas. Participar e contribuir para a atuação efetiva da APTCVC nos nossos territórios é a missão que agora assumimos e que muito nos honra. O desafio passa, fundamentalmente, pela promoção do turismo e pelo apoio à criação de emprego no setor cerâmico, potenciando a inovação e a qualidade do produto final.

A cerâmica é uma das mais antigas formas de expressão artística e manifesta, na diversidade e versatilidade do património nacional, o auge das suas qualidades estéticas e funcionais, carregando consigo uma conexão profunda com a habilidade humana.

Integrar esta Associação é, por isso, o assumir de um compromisso com o desenvolvimento do setor cerâmico regional e, em conjunto com outros membros da APTCVC, com a valorização desta herança nacional junto das gerações futuras, em linha com as diretrizes da nossa chancela de Cidade Criativa da UNESCO em Design. O apoio prestado a artesãos, artistas e empresas foca-se, fundamentalmente, na preservação do tradicional e na exploração de técnicas, materiais e suportes inovadores e sustentáveis, de acordo com uma lógica inter-geracional: uma simbiose perfeita entre criatividade e saber-fazer.

Vítor Manuel Pinheiro Pinheira
Presidente da Câmara Municipal da Covilhã

REPRESENTANTES DA APTCVC

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Vereador xxxx xxxxxxx, CM de Covilhã