CALDAS DA RAINHA
Caldas da Rainha é uma Cidade Termal, fundada nos finais do século XV pela Rainha D. Leonor, mulher do Rei D. João II, centro de uma Região e sede de um concelho depositário de um valioso património histórico-cultural. As suas termas de águas sulfurosas são reputadas desde os tempos remotos, pois já os romanos as utilizavam como testemunham documentos arqueológicos.
O concelho de Caldas da Rainha deve a sua história e nome à rainha D. Leonor, que viajava da vila de Óbidos para a Batalha quando viu, um grupo de gente humilde que se banhava em água enlameada e quente. Mandou parar a carruagem e quis saber o que significava aquilo. Eram tratamentos, disseram-lhe. Aquelas águas eram milagrosas: acalmavam dores, saravam feridas. Contavam-se até os casos de paralíticos que voltavam a andar como que por milagre. A Rainha, que então padecia de uma úlcera no peito que não havia maneira de fechar, quis fazer a experiência e viu que tudo o que lhe tinham dito era verdade: viu-se curada em poucos dias. Face a este acontecimento, a Rainha mandou erguer naquele lugar um edifício com fins terapêuticos – o Hospital Termal.
A riqueza do seu património arquitetónico, a beleza das praias e a gastronomia e doçaria típica são alguns dos seus chamarizes. A cerâmica típica das Caldas, que conheceu o seu auge artístico e comercial com os trabalhos de Rafael Bordalo Pinheiro, é caracterizada pela temática de cariz popular onde sobressai o Zé Povinho. Destacam-se ainda os conjuntos inspirados em folhas de repolho e a “outra” loiça típica, inspirada em motivos fálicos.
Na gastronomia, por influência da cultura conventual, as trouxas, as lampreias de ovos e as famosas cavacas são referências da riqueza, da singularidade e identidade cultural da cidade.
Os primeiros vestígios de produção de cerâmica em Caldas da Rainha remontam ao séc. XV, embora essa atividade fosse feita em pequenas unidades industriais de carácter familiar.
Por seu turno, será plausível que da construção do Hospital Termal e para o Convento da Madre de Deus tenha emergido a necessidade de abastecimento de diversos vasilhames e recipientes vidrados, com notoriedade para os de vidrado verde.
A atividade cerâmica na região teve, historicamente, um desenvolvimento extraordinário e sua expansão a partir dos solos ricos em argila, tendo sido iniciada a primeira fase da cerâmica caldense na década de 1820, com a produção de Maria dos Cacos, caracterizada pela monocromia verde-cobre ou castanho-manganês de peças de tipo utilitário (funcionalista) de gosto popular. Um segundo momento é marcado, em meados do século, pela renovação introduzida por Manuel Cipriano Gomes Mafra, mais tarde conduzida ao seu ápice pelo talentoso caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro e discípulos seus, como por exemplo Francisco Elias, e outros contemporâneos tais como José Alves Cunha, José Francisco de Sousa, Francisco Gomes de Avelar, entre outros.
As peças produzidas a partir de então caracterizam-se pela profusão de modelos formais, assim como por uma diversificada abordagem de temas decorativos. Os principais tipos da chamada “louça das Caldas” são a louça utilitária, constituída por louça de cozinha, apresentada em duas abordagens distintas: a contemporânea, com linhas e design simples, para uso diário e a naturalista, representando folhas de couve, de alfaces, peixes, fruta, enchidos, entre outros objetos que aliam o decorativo ao utilitário.
A louça caricatural originariamente apresentava profissões (padres, pescadores, agricultores) estereotipadas de maneira sarcástica e depreciativa. Atualmente as figuras representam políticos ou celebridades, embora a mais popular tradicionalmente seja, sem dúvida, a do Zé Povinho. Este personagem, criado por Rafael Bordalo Pinheiro para “A Lanterna Mágica”, afirmou-se desde a sua criação como estereótipo, sendo utilizado como símbolo de Portugal e do povo português.
Evidente que a partir do século XIX nas Caldas da Rainha há uma profusão imensa de informação e de testemunhos materiais, que vão desde ceramistas como Maria dos Cacos, a Manuel Mafra, Eduardo Mafra Elias, Francisco Gomes de Avelar, José Alves Cunha, Francisco Elias, Avelino Soares Belo, Visconde de Sacavém (José), até Rafael Bordalo Pinheiro a partir de 1884 e seu filho Manuel Gustavo já no início do século XX.
Nesse período, as cerâmicas caldenses vão chegando um pouco a toda a parte, apreciadas dentro e fora do País. Foram fatores determinantes para o prestígio desta cerâmica particular o desenvolvimento do termalismo das Caldas, a sua presença em exposições internacionais da época, bem como sua apreciação pela corte portuguesa.
Seguiu-se ainda outro período áureo na segunda metade do século XX com a criação da SECLA e o conjunto de ceramistas que se juntaram no Estúdio com o mesmo nome: ali pontuaram Hansi Staël, Thomaz de Mello (Tom), José Aurélio, António Quadros, Júlio Pomar, Alice Jorge, Ferreira da Silva, José Santa-Bárbara, Jorge Vieira, Maria Antónia Paramos, Miria Toivola Câmara Leme, Ian Hird e Herculano Elias, para além dos proprietários da fábrica e igualmente criadores, Pinto Ribeiro e Ponte e Sousa.
No panorama industrial atual de Caldas da Rainha destacam-se atualmente as Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, a Molde, a Olfaire e a Braz Gil Studio.
O panorama artístico conta com alguns ceramistas que a título individual vão desenvolvendo a sua obra, mantendo a tradição cerâmica da cidade, tais como Ana Sobral, Bolota, Vítor Reis, Carlos Enxuto, Mário Reis, Carlos Oliveira, Paula Violante, bem como tantos outros que iniciaram recentemente esta produção, uns mais ligados ao tradicional, outros mais arrojados e inovadores, tendo sempre como base a arte de trabalhar o barro.
Recentemente, o projecto Caldas da Rainha Cidade Cerâmica teve como objectivo promover o conhecimento e a repercussão externa das actividades centradas na cerâmica realizadas nas Caldas da Rainha e região envolvente. O programa valoriza as múltiplas vertentes da actividade cerâmica numa cidade que a desenvolve desde a sua origem, há mais de cinco séculos. Todos os domínios da cerâmica aqui foram e continuam a ser cultivados – da cerâmica utilitária à decorativa e artística, da cerâmica de construção ao revestimento e loiça de mesa, da olaria, à faiança, ao grés e à porcelana. Todas as tipologias de fabrico aqui foram e continuam a ser efectivados: da indústria à pequena produção artesanal e à peça de autor.
A partir de 2016, o projecto resultou num programa bienal de exposições de âmbito internacional, com uma estrutura fixa, designado genericamente por MOLDA, incluindo também conferências, workshops, edições, projectos de mapeamento, estudo e revitalização de estruturas de criação.
O programa reconhece e projecta as Caldas da Rainha como um centro produtor particularmente qualificado para a fixação, difusão, experiência, aprendizagem da cerâmica, nos planos nacional e internacional.
A experiência e as realizações acumuladas conduziram à apresentação da candidatura das Caldas da Rainha ao título de cidade criativa reconhecida pela Unesco, tendo sido aprovada a 30 de Outubro de 2019, a adesão à Rede de Cidades Criativas da UNESCO: Caldas da Rainha – Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares.
Vítor Manuel Calisto Marques
Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha
Mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha
Caldas da Rainha é a cidade sede de um concelho com mais de cinquenta mil habitantes que pertence ao distrito de Leiria, situada na Estremadura, zona Oeste de Portugal, a escassos quilómetros da costa atlântica. Cidade Termal, fundada nos finais do século XV pela Rainha D. Leonor, Caldas da Rainha é detentora de um amplo património histórico-cultural, com especial destaque para a vertente cerâmica que tem raízes no século XV e que se notabilizou com a loiça produzida na segunda metade do século XIX.
É, ainda hoje, um dos principais centros cerâmicos nacionais em operação, com forte ligação à produção artesanal ou criativa, mas também industrial, sendo a fileira da cerâmica um dos mais importantes sectores de atividade económica no concelho. A cidade tem um excecional conjunto de equipamentos culturais e de ensino, que, apoiados em inúmeras parcerias com a sociedade civil, permite desenvolver atividades que imprimem à produção cerâmica uma dinâmica alicerçada no conhecimento, inovação e sustentabilidade.
Reconhecida em 2019 pela UNESCO, como Cidade Criativa no domínio do Artesanato e Artes Populares, Caldas da Rainha é uma cidade que, como sempre aconteceu no passado, continua a atrair gente criativa, mulheres e homens que empreendem, que transmitem saberes ancestrais de geração para geração, ou que abrem novos caminhos numa atividade que, sendo repositório de uma tão célebre história se abre a um futuro que, acreditamos, será próspero e sustentável.
Vítor Manuel Calisto Marques
Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha
Representantes da APTCVC
Vereadora Maria da Conceição Henriques, CM de Caldas da Rainha
Tesoureira da Direção